FOTOGRAFIA NA INDÚSTRIA GRÁFICA

“A fotografia inaugura os mass media visuais quando o retrato individual é substituído pelo retrato coletivo”  - Freund


O SURGIMENTO

Fruto da pesquisa de Niépce e Daguerre em 1839, passa a ser possível a fixação da imagem através do processo da daguerreotipia. Contudo foram precisos 30 anos até a fotografia passar a ser aproveitada pelos jornais

A fotografia começou por ser encarada como um registo visual da verdade mas com a profissionalização e massificação passou a ser só  um registo do credível porque já no final do século XIX existem fotomanipulações.

O uso de fotografias nos jornais esbarrou em dificuldades técnicas para a sua reprodução, pelo que as fotografias eram usadas como modelo para as gravuras publicadas nos jornais. Foi o que aconteceu com m dos trabalhos fundadores do fotojornalismo, em 1880 quando Jacob Riis fotografou as péssimas condições de vida dos emigrantes em Nova Iorque. Riis utilizou flashes de magnésio para fotografar à noite, contudo as fotografias foram publicadas como gravuras.

Em 1860 surgiram os primeiros processos de reprodução fotomecânica a partir de uma matriz produzida fotograficamente, mas a fotografia só se torna comum na imprensa a partir de 1892 com o desenvolvimento da autopia, este processo que também é conhecido como halftone (meio-tom) permitia a impressão de diferentes tonalidades de cinzento ao invés de uma simples impressão a preto e branco como acontecia anteriormente.

Com o surgimento da autopia a xilografia e a litografia foram abandonados enquanto processo de impressão de fotografias, mas esta mudança não foi imediata devido aos custos da modificação dos sistemas de impressão apesar de a autopia permitir a redução dos custos de produção de uma página de 300 para 20 dólares.

É em 1898 com a Guerra Hispano-americana que os os jornais norte-americanos investem na modernização das oficinas gráficas, adquirindo novas máquinas que utilizavam o processo de meio tom ampliando o uso de fotografias e surgem os primeiros foto-jornalistas. Os jornais mais famosos desta época são o World, de Joseph Pulitzer e o New York Journal de Randolph Hearst. Estes jornais popularizaram o termo “yellow jornalismo”, termo que servia para caracterizar um jornalismo sensacionalista e que nem sempre era muito bem visto, tal como não o eram os primeiros fotojornalista que, segundo Freund, eram detestados pelas suas ‘vítimas’ e tinham uma reputação deplorável.

Durante  50 anos ser repórter fotográfico era mal visto, sendo considerado um trabalho menor e um fotógrafo era exarado como sendo só um simples criado. Este facto não impediu que o aumento do trabalho dos fotojornalistas tenha introduzido novas  formas de representação da realidade e novos crivos para leitura do mundo.

Começam também a surgir, no início do século XX,  movimentos como o Photo Secession, criado por Edward Steichen (1879 – 1973) e Alfred Stieglitz (1864 – 1946), que procurava abrir caminhos mais realistas e precisos para a fotografia , emancipando-a do
pictorialismo, tornando-se uma arte autônoma. As idéias deste grupo, difundidas através da revista Camera Work, procuravam impor uma estética modernista voltada para o elogio às cidades, a indústria e aos costumes não pitorescos.

Em 1904 a fotografia passou ter presença nos jornais diários quando o Daily Mirror, na Inglaterra, começa a ilustrar as suas páginas apenas com fotografias, as quais deixam de ser usadas só como uma ilustração e passam a ser um elemento informativo. Existe um aumento do número de fotojornalistas, mas existem no período de anonimato de uma profissão sem prestígio profissional.

A Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) veio permitir uma explosão no uso de fotografias pelos semanários e jornais diários, mas ainda não se pode falar de reportagens fotográficas, como o conhecemos actualmente. As imagens eram publicadas sem ter em conta o resultado global, tinham todas o mesmo tamanho e eram quase sempre planos gerais”.

A ESCOLA ALEMÃ

Durante a república de Weimar (1918-1933), na Alemanha, surge um grande número de revistas ilustradas onde nascem os “verdadeiros” fotojornalistas. 

Estas revistas, influenciadas pelas idéias da Bauhaus, articulavam o texto e as imagens de uma maneira nova, permitindo que se estabeleça aí a origem do moderno fotojornalismo. As revistas traziam a fotografia integrada ao texto, como parte de um projeto maior, muitas vezes assumindo um ponto de vista, esclarecendo o acontecimento.

Existem também uma série de inovações tecnológicas que vão permitir uma maior qualidade do trabalho fotográfico.

Em 1925 surge a Ermanoxx, máquina utilizada pelos primeiro repórteres fotográficos e em 1929 surge a Rolleiflex, precursora de inúmeras reflex de duas objectivas e filme de rolo. A Leica, que tinha sido criada em 1914, surge surge no início da década de 30 com um modelo com objetivas intercambiáveis.
Estas câmaras desenvolvidas a partir da década de 30 na Alemanha alteram totalmente a relação do fotógrafo com o seu equipamento e com os sujeitos fotografados, pois permitiam a captura de imagens instantâneas e poses mais naturais.

A Câmara fotográfica passa a ser uma extensão do olho do fotógrafo e a qualidade da fotografia deixa de ser avaliada com base na nitidez obtida, mas exclusivamente na habilidade e sensibilidade do fotógrafo.

Para além das inovações tecnológicas existe também o surgimento de uma geração de repórteres fotográficos bem formado e com nível social elevado que permite ao fotojornalismo ultrapassa o carácter meramente ilustrativo passado a assumir lugar de destaque enquanto informação.
Dos muitos fotógrafos que surgem neste ambiente notabiliza-se Erich Solomon, pai do moderno fotojornalismo. O seu estilo de fotografia chamado pela revista inglesa The Graphic de Candid Photography, caracterizava-se por obter uma fotografia quando quando os retratados não estavam percebendo sua intenção. 

O terceiro elemento fundamental para o desenvolvimento do fotojornalismo foram os editores como Kurt Korff, editor chefe da Berliner Illustrierte, e  Stefan Lorant, editor-chefe da Münchener Illustrierte Presse.  Eles criaram uma nova filosofia de se aproveitar a fotografia na imprensa, quebrando a velha visão da fotografia como mera ilustração. A grande inovação desses editores foi elaborar um projeto gráfico para as revistas combinando e as fotografias com o texto, com um complementando o outro e recorrendo sempre que possível ao foto-ensaio para o efeito desejado.

EXODO E CONSOLIDAÇÃO

A ascensão de Adolf Hitler em 1937 ao poder marcou o fim da experiência das revistas ilustradas alemã, muitos fotojornalistas foram perseguidos e emigraram para outros países como a França, Inglaterra e os Estados Unidos levando com eles as concepções do fotojornalismo alemão.
Lucian Vogel cria em 1928 a revista VU em França, onde Robert Capa publicou em 1936 a foto que o faria famoso.

Lorant fundou em 1938 a Picture Post, mas a publicação que revolucionou o fotojornalismo foi a revista Life, que que trazia fotografias dos melhores fotógrafos da época e surgiu em 1936 nos EUA . O seu estilo editorial foi seguido por outras revistas como a  Paris Match e Look.
As revistas fotográficas transformaram definitivamente o fotojornalismo, sendo na década de 30 que se define o papel do fotojornalismo.

A fotografia de Cartier-Bresson, torna-se um exemplo perfeito da aliança entre a arte e a informação imagética baseada na autoria. Já nos EUA reina entre os fotógrafos, a idéia de estabelecer a fotografia como um documento (caráter de verdade).

Será ainda na década de 1930 que o fotojornalismo integra-se definitivamente às rotinas dos jornais norte-americanos, devido a diversos factores sociais, culturais e mudanças dos projetos gráficos da maioria dos jornais aliadas às modificações nos processos de edição fotográfica e às novas tecnologias empregadas.

Uma das tecnologias  que teve maior impacto foi o sistemas de telefoto, a partir de 1935, os quais permitiam a utilização das fotografias como meio eficaz de comunicação, mas causaram uma repetição de imagens nos diversos jornais e revistas. 

Nos anos que se seguem à segunda Guerra Mundial existe uma convergência entre o fotojornalismo praticado na Europa e o fotojornalismo norte-americano e começa a existir um poder crescente das agências de notícias que vão traçar um novo cenário para o fotojornalismo e transformar a fotografia num elemento preponderante na sociedade.

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