O Fanzine Bizarro

Por vezes o nosso maior sucesso pode ser o maior fracasso.

O Bizarro foi um fanzine que comecei a editar em 1997 e que teve uma história atribulada que terminou em 2004 com um epílogo em 2007.

bizarro01Antes do Bizarro eu já tinha editado outros fanzines, nomeadamente o Arkham (1número), Ultimacto (1 número), Aardvark (4 números) e um número do Boletim do Clube Português de Banda Desenhada. O Bizarro era uma evolução natural dos esforços anterior, o resultado foi melhor  e mais coerente do que os esforços anteriores, pelo menos foi assim nos três primeiros, ao quarto número a coisa descambou um bocado resultado do meu desalento com o projecto e por já não estar muito empenhado no Bizarro. O quarto número que teve com número de capa o 12 estava muito mauzinho e foi o primeiro número que não tinha um só história escrita por mim. O número anteriores, terceira na cronologia e com o 4 como número de capa, apesar de também não possuir BD da minha autoria tinha material e um consistência a nível de formato e de linha editorial.

O número 12 era mau, e só foi mesmo editado porque sim, sem grande convicção, nesta altura tinha virado editor quando esse trabalho tinha sido uma necessidade para me publicar. Comecei a fazer fanzines para me publicar, não tinha, nem tenho a ambição de ser editor, sou acima de tudo um autor. Só que nessa altura tinha virado editor, e a maioria já se tinha esquecido que eu escrevi e desenhava, incluindo eu próprio.

bizarro21O número 21 (5º na cronologia) tem data de capa de Maio de 2000 mas só foi publicado uns meses depois. Esse número aconteceu sobretudo devido ao Paulo Amorim, um dos autores e editores do Vertigens. O Paulo tinha material para publicar que era para o terceiro número do Vertigens que nunca chegou a ser publicado, eu ainda tinha algum material que me tinham enviado para publicar. Co-editarmos o Bizarro parecia uma boa ideia, sobretudo porque o Paulo é que iria fazer as maquetes.

O resultado final foi mais um Vertigens nº3 do que um Bizarro nº5. É que eu acabei por ser só editor no papel, e colaborei só com os textos. Muito do material que foi publicado foi escolha do Paulo e a abordagem gráfica era algo que reflectia só a sua visão. Apesar de tudo estava um excelente fanzine.

Entretanto eu tinha andado a fazer algumas coisas, e foram-me enviando mais material pelo que acabei por editar um Bizarro #06 que regressou á numeração por ordem cronológica e estava mais perto daquilo que eu pretendia do Bizarro enquanto fanzine, quer a nível gráfico quer a nível de histórias. Foi o fanzine que marcou o meu regresso ás páginas do Bizarro enquanto autor (argumentista) sob pseudónimo e tem das minhas primeiras colaborações com outros autores (Elina Dias e Phermad).

bizarro6O fanzine estava bom, mas não estava a planear continuar com o Bizarro, andava mais focado em concluir alguns projectos enquanto argumentista, quando começaram a surgir algumas das histórias curtas que tinha feito, comecei a pensar onde iria publicar, o Bizarro parecia um boa opção, mas as edições de papel tinham um alcançe restrito, pelo que decidi fazer um versão digital do fanzine.

A ideia de colocar o material do Bizarro on-line já tinha algum tempo, chegou a haver uma primeira tentativa que foi abortada por divergências criativas entre mim e o webmaster, por isso desta vez resolvi fazer as coisas de uma maneira mais simples, peguei no FrontPage e meti-me a aprender a fazer um site.

Foi assim que Bizarro começa a ter um presença na net, com o design possível pelos meus parcos conhecimentos de html. Conhecia dos fóruns e mailing list o João Machado que editava um webzine de prosa onde cheguei a colaborar e que tinha uns conhecimentos de webdesign um pouco melhores do que os meus, acabei por o convidar para fazer o design do Bizarro, algo que ele aceitou. A minha ideia era publicar as minhas novas histórias e algum do material publicado em papel e o projecto terminava aí, só que o João achava que valia a pena continuar com o Bizarro criando um espaço onde fosse possível publicar BD, ilustração e divulgar BD em português. Eu concordava com ele, só que não andava muito inclinado para ser editor. O rapaz insistiu e acabamos por chegar a um acordo em que ele iria ser o editor, começa aí a  melhor fase do Bizarro.

O Bizarro ganha um design decente, começa a publicar BD, prosa, ilustração, artigos, criticas e notícias. A quantidade de material era grande e o trabalho também. A grande maioria do trabalho a nível de ilustração era sobretudo de autores estrangeiros que arranjar colaborações de autores nacionais era complicado, mesmo uma selecção de ilustrações que tinham feitas em casa. É que sabem, participar num projecto na net não chegava a gente suficiente, que isso da net ninguém liga!

Existem algumas histórias giras que eu podia contar, mas não vale a pena.

Foi editado mais um fanzine com histórias escritas por mim e ilustradas pelo Janus, João Mascarenhas e Marta Gomes, mais uma curta do David Soares.

Dos outros projectos que eu tinha quase todos acabam por não se realizar, a nível pessoal tinha outros problemas que me fazem ter ainda menos interesse fazer BD ou estar ligado a ela. Em 2004 afasto-me do Bizarro, entretanto o João vai tendo outras coisas com que se preocupar e Bizarro deixou de ser actualizado, mais tarde o domínio não é renovado e desaparece da net. Os discos de backup desapareceram, ou estão perdidos no meio dos cds de alguém, Aquilo que foi o site do Bizarro é algo que só quem colaborou ou leu na altura sabe e que dificilmente vai ser possível recuperar, nem mesmo um simples screendshot.

O Bizarro desapareceu, mas continuou a perseguir-me, em 2007 pensei em fazer uma edição comemorativa dos anos do Bizarro para encerrar o capitulo, convidei autores, reuni material, escrevi uma curta foi a primeira BD que assino com o pseudónimo de Chaka Sidyn. Contudo, a vontade de ser editor não estava cá, o investimento ainda era significativo para as minhas posses, pelo meio metem-se outros problemas a níveis pessoais e o Bizarro 10 nunca foi editado.

1cc11-foibizarroMais tarde coloquei algum do material que tinha on-line no Foi Bizarro. Mais do que um maneira de trazer de volta o Bizarro, foi uma experiência para ver como aquela plataforma de publicação de BD funcionava. Quando o site do Bizarro foi feito existiam  muitas poucas ferramentas para publicar BD, o site funcionava com Movabletype adaptado com uns scripts para possibilitar a publicação e automatismos necessários.

Hoje em dia publicar BD on-line é um bocadinho mais prático, existem várias alternativas que possibilitam um publicação eficaz, sem requerem grande conhecimento de publicação. Por cá poucos parecem interessados em as explorar, eu pessoalmente penso voltar a publicar BD online em breve, mas algo que não é um projecto colectivo como o Bizarro mas pessoal, com a eventual colaboração de um desenhista.

O Bizarro sempre foi um projecto que visava a divulgação dos autores no geral, a criação de um plataforma que permitisse uma publicação regular, mas os autores geralmente não estão muito interessado na criação de algo que seja um projecto de médio longo curso, que não tendo um retorno imediato, permite o seu desenvolvimento enquanto autores e sua divulgação a um publico alargado.

Em termos monetários seria extremamente complicado compensar equitativamente os autores, eram demasiados, no fundo o bizarro sofreu dessa ironia, publicou demasiados autores sem nunca ter autores a produzirem regularmente.

Olhando para trás, tenho de admitir, o Bizarro foi demasiado ambicioso, mas apesar de ter falhado em vários aspectos foi um experiência enriquecedora e que valeu a pena.

Podia ter sido melhor, mas no tempo em que foi feito, fazer mais do que aquilo que foi feito era difícil.

O Bizarro morreu, mas a vida continua.


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